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A palavra “lésbica” designa mulheres homossexuais. A sua origem está no nome da ilha grega de Lesbos, famosa por ser o local onde a poetisa Safo viveu há cerca 2600 anos. Além de ela manter uma escola de poesia e música apenas para moças, a sua obra falava sobre a paixão por outras mulheres. O nome dela também deu origem a termos como “práticas sáficas”, um sinônimo da lesbianidade. Quase toda a sua obra foi queimada durante o processo histórico de criminalização da homossexualidade.


Esse termo não começou a ser usado até o século XX. Antes disso, elas também eram designadas por termos como “sodomita”, mais associados aos homossexuais masculinos devido à prática de “sodomia” (sexo anal). Ao longo do tempo, “lésbica” e outros termos, como “sapa”, “sapatona”, “paraíba”, também foram usados pejorativamente para designar mulheres que fugiam do padrão de beleza e de  feminilidade, chegando a constar desta forma em dicionários.

Fonte: NAVARRO-SWAIN, Tania. O que é lesbianismo. 1ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2004. p. 9-37. 

Lésbica

A palavra “gay” designa, principalmente, homens homossexuais. Pelo histórico do termo, percebemos que desde o surgimento da palavra ela costumava representar mais os homens, entretanto hoje em dia a palavra está sendo mais comumente utilizada para referir às mulheres homossexuais (lésbicas) também. 

 

Especula-se que a primeira aparição do termo “gay” tenha sido no século XII, na Inglaterra, sendo um adjetivo sinônimo à “alegre”, “despreocupado”. Mas, como muitas palavras de qualquer língua ao redor do mundo, ela sofreu mudanças de significado ao passar dos anos. Por volta de 500 anos depois, a palavra teve seu segundo conceito: começou a referir pessoas imorais.

 

Já no século XIX, outra alteração semântica ocorreu: gay agora correspondia às mulheres prostitutas e aos homens que transavam com várias mulheres (muitas delas prostitutas). Foi somente na década de 1950 que o termo começou a ter o significado que tem hoje, sendo mais uma forma de representar homens e mulheres homossexuais.  

Fonte: GATTI, José. Mais amor e mais tesão: história da homossexualidade no Brasil - Entrevista James Green. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 8, n. 2, p. 149, jan. 2000. ISSN 1806-9584. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/11932>. Acesso em: 18 out. 2018.

Gay

A palavra “bissexual” apareceu pela primeira vez na linguagem científica, quando biólogos do século XIX descobriram embriões humanos que não demonstravam características sexuais nem femininas nem masculinas até a 12ª semana de gestação. Bissexual então passou a ser o termo utilizado para tratar uma ambiguidade sexual ou hermafroditismo.


Depois de muitos anos a palavra foi ressignificada e reapropriada e dificilmente a vemos ser utilizada como antigamente. Entretanto, o seu antigo uso teve influência na compreensão que temos hoje do entendimento da bissexualidade.


O prefixo bi de “bissexual” muitas vezes nos remete à palavra “dois”, nos levando a pensar que apenas um modelo binário de gênero é levado em consideração - o masculino e o feminino. Porém, essa ideia é equivocada, uma vez que a intenção da comunidade bissexual não é excluir as pessoas que não se enquadram no modelo binário de gênero.


Ou seja, bissexual é relativo à pessoas que têm atração afetiva e sexual por mais de um gênero diferente.

Fonte: LEWIS, E. 2012. “Não é uma fase”: construções identitárias em narrativas de ativistas LGBT que se identificam como bissexuais. Dissertação (mestrado). Programa de PósGraduação em Letras. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Bissexual

A palavra “trans” é uma abreviação para transgênero, que se refere às pessoas que não se identificam com os comportamentos pré estabelecidos para o gênero que lhes foi designado no nascimento. Dentro dessa categoria estão os/as transexuais e as travestis.

 

A pessoa transgênero é aquela que adequa o corpo ao gênero com o qual se identifica, buscando reconhecimento legal e social dessa escolha. Em alguns casos, isso quer dizer que ele(a) tem convicção de que pertence ao sexo oposto e que fará de tudo para que seja aceito dessa forma. Entende-se que o termo se opõe a qualquer noção puramente biológica e reducionista de que o sexo e o gênero são o mesmo e se resumem ao órgão sexual. Isto é, o pênis não define a pessoa como homem, nem a vagina como mulher.

 

Em alguns casos, as pessoas transgênero se identificam como transsexuais. Neles, geralmente elas mudam esteticamente o corpo, valendo-se de qualquer transformação, inclusive por meio de intervenção cirúrgica e uso de hormônios, a fim de adaptá-lo a sua identidade de gênero. A partir dos entendimentos da transexualidade, torna-se totalmente possível que uma mulher possua pênis, não tenha seios e seja caracterizada a partir do estereótipo masculino e vice e versa (homem com uma vagina).

O termo “travesti” também se encontra intimamente relacionado ao “trans” e se refere a uma experiência identitária de pessoas designadas ao sexo masculino no nascimento. As travestis se constroem a partir da busca pelas simbologias femininas, portanto usualmente se depilam, colocam seios, se transformam com maquiagem e cabelo, forma de andar, de se vestir. Elas não se reconhecem como homem ou como mulher, isto é, perpassam esse binarismo sendo na verdade membros de um terceiro gênero ou de um não-gênero. Para alguns teóricos, as travestis buscam a feminilidade, sem no entanto abrir mão das características masculinas, como certa virilidade, independência e força física.

 

O termo também tem origem da palavra “travestir-se”, justamente por se remeter ao ato de romper estereótipos e se travestir dos signos socialmente vistos como femininos. Pelo forte estigma e preconceito sofrido por essas mulheres ao não se encaixarem nos padrões heteronormativos, muitas acabam se prostituindo e vivendo em condições de extrema vulnerabilidade. Há, portanto, uma certa glamourização que se mistura com as mazelas da vida noturna urbana. Por fim, não se trata necessariamente de ter ou não o pênis e fazer uso sexual dele, pois há travestis que escolhem retirá-lo, mas é usual que elas mantenham a genitália e convivam com o orgão se relacionando sexualmente com homens.

 

Há registros de estudos de nazistas no período da Segunda Guerra Mundial sobre um rapaz preso em 1943 por passar por processos hormonais para se feminilizar. Mas, é apenas ao final da guerra e de muitas especulações e estudos sobre pessoas que faziam transformações no corpo para se adequar a um outro gênero, que nasce o termo “fenômeno transexual”, cunhado por Harry Benjamin, um dos principais teóricos da transexualidade.

Fonte: BARBOSA, Bruno César. Nomes e diferenças: uma etnografia dos usos das categorias travesti e transexuais. USP, 2010.

 

Leite Júnior, J. (2008). Nossos corpos também mudam: sexo, gênero e a invenção das categorias “travesti” e “transexual” no discurso científico. Tese de Doutorado, Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008. Disponível em: https://sapientia.pucsp.br/handle/handle/3992. Acesso em 21 de out. de 2018.

 

Glossary of Terms - Transgender

Trans e Travesti

O termo “queer” tem origem no alemão e, de acordo com o dictionary.com, seus significados originais na língua inglesa incluem: “estranho, excêntrico, suspeito”. No entanto, atualmente essa palavra tem um sentido muito maior: depois de décadas sendo usada como um xingamento (direcionado especialmente aos homens gays), ela foi reapropriada pelo movimento como um termo guarda-chuva para identidades de gênero e orientações sexuais que fogem ao padrão.

No início do século XX, em Nova Iorque, queer e fairy eram formas como homens homossexuais se referiam a si mesmos. Após a Segunda Guerra Mundial, ambas as denominações passaram a ser usadas por heterossexuais de forma pejorativa, especialmente para recriminar comportamentos afeminados em homens. A reapropriação do termo pelos ativistas só veio nas décadas de 80 e 90, com o surgimento de movimentos como o Queer Nation, que deram um novo sentido à expressão ao usá-la para se identificar novamente. Essa era uma forma de quebrar com a forma que termos como gay e lésbica reforçam uma separação e um binarismo, além de questionar a visão da sociedade sobre os LGBTQ como pessoas “estranhas” ou “fora do normal”.

A contestação está no cerne de quem se auto-identifica como queer. Trata-se de não querer se encaixar dentro dos padrões binários de gênero ou comportamentos heteronormativos.

Fonte:

BRONTSEMA, Robin. A Queer Revolution: Reconceptualizing the debate over linguistic reclamation. Colorado research in linguistics. Boulder: vol. 17, nº 1, p. 1-17. Disponível em: https://scholar.colorado.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1029&context=cril. Acesso em 16 de out. de 2018.

Queer

Tanto “não-binário” quanto “genderqueer” são temos guarda-chuva, ou seja, são usados para abarcar diversas identidades que vão além do binário, segundo o qual só se poderia ser homem ou mulher. Isso parte de um entendimento do gênero dissociado da genitália que se tem no nascimento e a forma como o gênero é designado naquele momento. Além disso, essa visão propõe que gênero é um espectro, no qual não é necessário ser apenas um ou outro, é possível transitar entre eles.

 

O “genderqueer”, mais usado nos países anglófonos, vem da junção de “gender” (gênero) e “queer” (cujo significado original era “estranho”, mas, ao longo do século XX, foi usado para designar pessoas LGBTQ). O termo “não-binário”, que se tornou de uso mais comum no Brasil, é preferido por algumas pessoas devido ao fato de que “queer” foi usado como uma ofensa às pessoas LGBTQ por diversos anos antes de ser reaprorpriado pelo movimento nos anos 80 e 90. Por outro lado, alguns ativistas usam esse termo justamente para contestar a visão da sociedade de que quem não é cisgênero e heterossexual é “estranho”.

 

Em algumas definições, as pessoas não-binárias são entendidas como pessoas trans, já que rejeitam o gênero atribuído no nascimento. As formas de expressão de gênero de quem é genderqueer podem variar muito, com pessoas que se identificam mais com um lado do espectro ou outro (ou seja, tem uma aparência considerada mais masculina ou feminina) e outras que se posicionam fora do espectro, como é o caso dos gêneros neutros.

Fonte:

BRONTSEMA, Robin. A Queer Revolution: Reconceptualizing the debate over linguistic reclamation. Colorado research in linguistics. Boulder: vol. 17, nº 1, p. 1-17. Disponível em: https://scholar.colorado.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1029&context=cril. Acesso em 16 de out. de 2018.

Glossary of Terms - Transgender

Saiba mais: 

GÊNEROS NÃO-BINÁRIOS com XISTO PARTE 01 - Pergunte às Bee 151

#OrgulhoDeSer: PESSOA NÃO-BINÁRIA!

NÃO-BINÁRIO É TRANS?

Não-binário ou genderqueer

O termo agênero ainda é relativamente recente e começou a se popularizar nos últimos anos. Por isso, a sua definição ainda está em construção, assim como outras identidades que estão sob os guarda-chuvas do genderqueer e do não-binarismo. Junto a essa identidade, há outras que transitam entre os dois extremos do binário de gênero ou buscam sair dessa escala, como a androginia, o genderfuck, gênero neutro e o gênero fluído.

 

A identidade agênero emerge a partir da rejeição do binarismo de gênero, segundo o qual indivíduos só poderiam ser homens ou mulheres, a depender do gênero/sexo que lhes foi designado no nascimento. Ao se identificar dessa forma, a pessoa não se conforma aos padrões de comportamento vinculados a cada gênero, reivindicando liberdade sobre a construção da sua própria identidade.

 

Isso pode se refletir de diversas formas no que se denomina de “expressão de gênero”, ou seja, quais comportamentos rotulados pela sociedade como masculino ou feminino são adotados. O exemplo mais visível disso é o uso de elementos como roupas, cortes de cabelo e outros adereços que conferem uma aparência que não pode ser identificada imediatamente como “homem” ou “mulher”. No entanto, não é por ser agênero que o indivíduo vai adotar esse tipo de performance, uma vez que o grande marcador político dessa identidade é a liberdade.

Fonte:

What Does It Mean to Be Agender? 

 

WISNIEWSKI, A. P. R. As diferentes identidades de gênero e as suas nomenclaturas. In: WISNIEWSKI, A. P. R. A legitimidade das identidades de gênero não binárias e o reconhecimento de suas demandas como reivindicações de Direitos Humanos. 2015. 136 f.  Dissertação (mestrado). Programa de Pós-Graduação em Direito, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2015. p. 37-51. Disponível em: http://www.repositorio.jesuita.org.br/bitstream/handle/UNISINOS/6011/Ana%20Patr%C3%ADcia%20Racki%20Wisniewski_.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 27 de out. de 2018.


DOS REIS, Neilton; PINHO, Raquel . Gêneros Não-Binários: Identidades, Expressões E Educação. Reflexão e Ação (Unisc. Impr.), v. 24, p. 7-25, 2016. Disponível em: https://online.unisc.br/seer/index.php/reflex/article/view/7045. Acesso em: 27 de out. de 2018.

Agênero

Drag é o nome dado a um tipo de performance na qual o artista se veste de uma forma estereotipada da identidade de gênero masculino (king) ou feminina (queen). Isso independe da identidade de gênero ou orientação sexual do performer. Por exemplo, uma lésbica pode ser uma drag queen e um homem hétero pode ser um drag king. Muitas vezes, essa performance se dá através da construção de uma persona, com traços de personalidade ou estilos específicos. Por isso, usa-se o termo “se montar” para falar sobre esse processo de transformação.

 

Ao longo da história, as performances drag surgiram a partir do teatro e de rituais religiosos, nos quais os papéis femininos eram interpretados por crianças e adolescentes do sexo masculino, uma vez que as mulheres não eram permitidas de fazê-lo. Uma história famosa é de que a palavra “drag” surgiu como um acrônimo para “dressed as a girl” (vestido como uma menina, em português) escrito por Shakespeare no rodapé de suas peças, algo que nunca foi comprovado. No entanto, da Europa da Idade Média até o Extremo Oriente havia esse costume, um exemplo são os atores do teatro Kabuki, no Japão, que não podiam sair do papel feminino nem mesmo depois de sair dos palcos.

 

O primeiro registro escrito do termo drag data de 1887. Desde o final do século XVII, a interpretação de papéis femininos por homens havia tomado uma outra guinada nos teatros europeus, passando a ter um caráter cômico. No início do século XX, ele toma a forma da “dama pantomímica”, antes de cair no ostracismo até a década de 60. Com o movimento dos direitos humanos, a contracultura e as grandes divas do cinema, as drags começaram a tomar um pouco da forma que conhecemos atualmente. Elas tiveram um papel extremamente importante na luta pelos direitos civis e, a partir dos anos 80, foram lentamente se inserindo na cultura pop, com nomes como Lypsinka, Divine e RuPaul.

Fonte:

AMANAJÁS, I. A.. Drag Queen: Um Percurso pela Arte dos Atores Transformistas. Revista Belas Artes, v. 1, p. 1-24, 2014. Disponível em: http://www.belasartes.br/revistabelasartes/downloads/artigos/16/drag-queen-um-percurso-historico-pela-artedos-atores-transformistas.pdf. Acesso em:28 de out. de 2018.

Drag Queen/Drag King

Heteronormatividade é um conceito proposto por Michael Warner em 1991. Ele vem da junção da palavra hétero (usada como sinônimo para heterossexual) e normatividade. O adjetivo “normativo” é usado para caracterizar aquilo que reforça ou impõe padrões e normas. Portanto, a heteronormatividade é um conjunto de instituições e comportamentos que reforça a visão da heterossexualidade e do cisgênero como o normal (ou o estado natural das coisas) e o diferente como algo desviante.

 

Na introdução do livro “Fear of a Queer Planet”, que Michael Warner organizou, o autor examina a forma como os estudos sobre gênero e sexualidade realizados até então haviam sido limitados nas suas abordagens por não questionar heteronormatividade. Em muitos dos casos, os trabalhos do cânone das ciências sociais desconsideravam completamente questões de gênero e sexualidade. Em uma esfera mais cotidiana, isso pode ser observado pela forma como supõe-se que alguém é heterossexual e cisgênero até que se diga o contrário.

 

A heteronormatividade está presente nas instituições, como quando se diz que o casamento é entre homem e mulher, ou que famílias não podem ser formadas por pessoas do mesmo gênero. Para além dos direitos civis, ela está na própria forma como estruturamos nossas relações afetivo-sexuais. Um exemplo disso é a visão do sexo como algo centrado na penetração, que tenta desqualificar as relações sexuais entre mulheres como algo que não seria sexo.

Fonte:

WARNER, Michael. (editor). Fear of a Queer Planet: Queer Politics and Social Theory. Minneapolis/London, University of Minnesota Press, 1991.

Heteronormatividade

O termo transformista veio do teatro e era usado para se referir a atores e atrizes que interpretam diversos personagens na mesma peça, sendo capazes de trocar a sua caracterização rapidamente. Além de ser usado em outros países que falam português e espanhol, ele começou a se popularizar no Brasil no início do século XX. Com a cultura gay ainda incipiente, começou a ser apropriado para falar sobre quem, em uma performance artística, se vestia com roupas, acessórios e maquiagens estereotipadamente femininos.

 

O transformismo começou em casas privadas e reuniões de grupos LGBTQ. Se no exterior as drags deixaram um pouco de lado a sua origem no teatro, não podemos dizer o mesmo das transformistas no Brasil. Muitas delas se apresentavam nos teatros de revista (gênero popular marcado por sátira e músicas) durante as décadas de 60 e 70. No entanto, de forma similar às colegas estadounidenses, também apropriou-se do formato dos concursos de beleza, como o Miss Gay Brasil, que surgiu em Juiz de Fora em 1976 e ainda é realizado anualmente.

 

Enquanto as drag queens tem uma definição mais aberta, o transformismo é composto principalmente por homens, mulheres trans e travestis. O termo começou a cair em desuso no país durante o século XXI, principalmente devido à popularização de “drag queen” para se referir esse tipo de performance. A diferença é que nas drags há um caráter mais exagerado nas paródias do que havia nas transformistas que, muitas vezes, tinham uma preocupação maior em se parecer com mulheres cisgênero. Porém, de forma similar, muitos artistas criavam personas femininas para o palco.

 

É importante observar que, durante esse período de construção das identidades LGBTQ no Brasil, as transformistas tiveram um importante papel de trazer essa subcultura para o mainstream. Ao mesmo tempo, em um momento em que identidades como travesti, transgênero e transexual não estavam tão bem consolidadas, muitas vezes eram categorias que se confundiam.

Fonte:

BORTOLOZZI, Remom Matheus. A Arte Transformista Brasileira: Rotas para uma

genealogia decolonial. In: Quaderns de Psicologia, 17(3), 123-134, 2015. Disponível em: https://www.raco.cat/index.php/QuadernsPsicologia/article/download/10.5565-rev-qpsicologia.1274/392830. Acesso em 10 de Nov. de 2018.

Transformista

A expressão “Homens que fazem sexo com homens” (conhecida também pela sigla HSH) surgiu nos anos 90 a partir dos estudos médicos sobre HIV/AIDS como uma categoria para descrever um grupo de risco para a doença. Na mesma época, o termo análogo “mulheres que fazem sexo com mulheres” também apareceu pela primeira vez, ainda que não seja tão utilizado. Um dos motivos para o seu surgimento é o estigma relacionado às palavras “gay” e “lésbica” que eram prevalentes na época, especialmente por estarem ligados a certas identidades específicas.

 

Se por um lado essa expressão abrange outras orientações sexuais que não a exclusivamente homossexual, por outro ela apaga as identidades dessas pessoas. Young e Meyer (2005) exploram como, ao utilizar essa categoria totalizante, nega-se o direito de autoidentificação dos LGBTQ e se perdem nuances identitárias que podem ser relevantes para o debate, como a intersecção com recortes de classe, raça e práticas culturais localizadas. Até mesmo porque diferentes identidades podem ter diferentes comportamentos afetivo-sexuais, o que requer abordagens mais específicas.

Fonte:

YOUNG, Rebecca M; MEYER, Ilan H. The Trouble With “MSM” and “WSW”: Erasure of the Sexual-Minority Person in Public Health Discourse. American Journal of Public Health, Washington, v. 95, n. 7, 2005. Disponível em: https://ajph.aphapublications.org/doi/full/10.2105/AJPH.2004.046714. Acesso em 06 de nov. de 2018.
 

Homens que fazem sexo com homens

A população trans é historicamente estigmatizada, marginalizada e perseguida. Isso devido à crença de que o natural é que o gênero atribuído ao nascimento seja aquele com o qual as pessoas devem se identificar. Portanto, espera-se que elas se comportem de acordo com o que se julga adequado para esse ou aquele gênero (HERDT, 1996). Isso parte de uma compreensão vazia de que o que nos define quanto a gênero é a nossa biologia, algo puramente genético e genital, sendo qualquer expressão de gênero diferente entendida como anômala e classificada como um transtorno. 

A transfobia é, portanto, a repulsa, o preconceito e a intolerância às mulheres percebidas como masculinas, homens percebidos como femininos, travestis e crossdressers, transgêneros e/ou transsexuais. É semelhante à homofobia, que é o medo ou a aversão a homossexuais (Weinberg, 1972). Trata-se da repulsa diante das mulheres percebidas como masculinas, homens percebidos como femininos, travestis e crossdressers, transgêneros e/ou transsexuais. Segundo levantamento do Grupo Gay da Bahia (GGB), 2017 foi o ano com o maior número de assassinatos da população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) desde o início da pesquisa, há 38 anos, com 445 mortes. Devido à falta de estatísticas oficiais, o levantamento é realizado através de notícias e informações que circulam na Internet, causando certa imprecisão nos dados. 

Entre avanços e retrocessos decorrentes de ofensivas reacionárias, ainda estamos distantes, principalmente na realidade brasileira, do ideal delineado por Joan Roughgarden (2005), para quem a  sociedade  um  dia  poderá  amadurecer  e  o  fato  de  uma  pessoa  se  assumir  como transexual não mais seria considerado uma razão de luto para ela, os familiares e amigos, mas de enorme alegria, quem sabe com direito a uma festa, pela pessoa estar se encontrando em uma espécie de segundo nascimento. Falta-lhes, portanto, espaço adequado para “ir e vir” tranquilamente (DE JESUS, 2013).

Fonte:

De Jesus, Jaqueline Gomes. Transfobia e crimes de ódio: Assassinatos de pessoas transgênero como genocídio. Revista História Agora, 2013. Disponível em:
<https://www.researchgate.net/publication/281321251_Transfobia_e_crimes_de_odio_Assassinatos_de_pessoas_transgenero_como_genocidiohttps://www.researchgate.net/publication/281321251_Transfobia_e_crimes_de_odio_Assassinatos_de_pessoas_transgenero_como_genocid>


Chagas, Emilly Negrão; Do Nascimento, Thayana Evely Pinto. (IN)VISIBILIDADE TRANS: uma breve discussão acerca da transfobia na vida de travestis. UFMA, 2017. Disponível em: <http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2017/pdfs/eixo6/invisibilidadetransumabrevediscussaoacercadatransfobianavidadetravestisetransexuais.pdf>

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Transfobia

Pansexualidade é a orientação sexual de quem se atrai por todos os gêneros. O prefixo pan- do latim significa todos, é usado junto ao sufixo sexual como nas outras orientações mais conhecidas (hétero, homo e bi). Em alguns casos, as pessoas podem usar bisexual e pansexual de forma intercambiável, ainda que eles não sejam sinônimos. Isso se dá principalmente por poucas pessoas conhecerem o termo “pansexual” fora da comunidade LGBTQ.

 

A identidade pansexual marca um reconhecimento, inclusive político, da atração sexual pelas identidades que saem do binário de homem e mulher. Por isso, ela está fortemente ligada aos movimentos queer e não-binário. É importante ressaltar que pessoas bissexuais podem se sentir atraídas por dois (ou mais) gêneros que não necessariamente são homem e mulher.

Em sua pesquisa sobre comunidades de pessoas pansexuais online, Aysigi Gonel argumenta que a pansexualidade se opõe não só à heteronormatividade, mas também a uma homonormatividade que tem surgido nos últimos anos. Esse é um reconhecimento de como o movimento gay assimilou características da heteronormatividade para se tornar mais palatável à sociedade e, nesse processo, reforçou preconceitos contra outras pessoas LGBTQ. Um exemplo disso seria a ideia de que se precisa “escolher” sentir atração por apenas um gênero e que as outras orientações sexuais estariam passando por períodos de confusão ou indecisão.

Fonte:

GONEL, Aysigi Hale. Pansexual Identification in Online Communities: Employing a Collaborative Queer Method to Study Pansexuality. Graduate Journal of Social Science: vol. 10, nº 1, p. 36-59. Disponível em: http://gjss.org/sites/default/files/issues/chapters/papers/Journal-10-01--02-HaleGonel.pdf. Acesso em: 25 de nov. 2018..
 

Pansexualidade

“A interseccionalidade sugere que, na verdade, nem sempre lidamos com grupos distintos de pessoas e sim com grupos sobrepostos”, afirmou Kimberlé Crenshaw em seu artigo “A Interseccionalidade na Discriminação de Raça e Gênero”. A pesquisadora começou a trabalhar o conceito de interseccionalidade em 1989, em um capítulo de um livro dedicado a explorar como mulheres negras sofrem opressões de raça e de gênero não de forma isolada, mas como uma opressão conjunta que precisa ser analisada dessa forma.  

 

Esse conceito é muito útil para se mudar a lógica como pensamos o preconceito e a opressão. Por exemplo, quando pensamos sobre a forma como estereótipos sobre homens gays e homens negros os afetam, geralmente não pensamos sobre como há estereótipos específicos que atingem homens gays negros. O mesmo se dá com mulheres, pessoas com deficiência, pessoas pobres e outros grupos marginalizados pela sociedade. Isso coloca problemas que vão muito além do nosso dia a dia, complexificando, por exemplo, as maneiras de se pensar políticas antidiscriminatórias.

 

Desde então tem se difundido a criação de movimentos como o feminismo negro, o transfeminismo e o feminismo lésbico. Isso se deve ao fato de que essas mulheres sentiam que as pautas do movimento feminista em geral não contemplavam certas opressões específicas sofridas por elas. Da mesma maneira, mulheres LGBTQ muitas vezes sentem que o movimento tem o foco nas lutas dos homens gays, levando-as a criar suas próprias iniciativas.

Fonte:

CRENSHAW, Kimberlé. A Interseccionalidade na Discriminação de Raça e Gênero. In: Cruzamento: Raça e Gênero. Rio de Janeiro: UNIFEM, 2004. Disponível em: http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/wp-content/uploads/2012/09/Kimberle-Crenshaw.pdf. Acesso em: 25 de nov. de 2018.

Interseccionalidade

Movimentos identitários é o nome que tem se dado a um tipo de ativismo político que surgiu na segunda metade do século XX. Uma vez que pautas como o fim da escravidão, da segregação racial e o direito da mulher ao voto estavam, em grande parte, conquistadas, a luta tomou outra direção. Embora pautas como equidade salarial ainda sejam contemporâneas, hoje em dia muitos dos ativismos estão voltados para a liberdade de ser quem se é, sem sofrer preconceitos.

 

Embora isso pareça, à primeira vista, como algo simples e individualista, não é. “O pessoal é político”, já dizia a feminista Carol Hanisch nos anos 70. Isso porque o processo de construção identitária é cultural - ele se dá o tempo todo, quando vemos TV, conversamos com nossos amigos, usamos redes sociais, escolhemos uma profissão X ou Y. Grande parte do aprendizado do que é certo e errado (dentro disso, os próprios preconceitos mais enraizados e tácitos) ocorre nesse âmbito. Pela forma como vemos as representações do mundo, escolhemos aquilo com o que nos identificamos, percebemos igualdades ou diferenças, vemos futuros possíveis para nós mesmos, enfim, construímos visões de diferentes formas de existir no mundo.

 

Um exemplo claro disso é a forma como, nessa época, os negros começaram a usar o black power, uma forma de se libertar de ideais estéticos brancos segundo os quais o cabelo deveria ser liso. Dentro do movimento feminista nascem questões como a liberdade sexual, enquanto o movimento LGBTQ já surge com um ativismo identitário: a liberdade de assumir-se e viver a sua afetividade abertamente. O movimento identitário progrediu de tal forma que, na atualidade, luta-se pelo reconhecimento das múltiplas identidades e formas de expressão de gênero.

Fonte:

WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, Tomás T. (org.): Identidade e Diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais. 12ª Ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.

Movimentos identitários

A representatividade é uma pauta que tem tomado cada vez mais peso na contemporaneidade, em especial com os movimentos identitários. Ela pode ser analisada dentro de dois eixos principais: o da política institucional e o da cultura geral, mais amplo.

 

Na política institucional, a representatividade tem a ver com a presença de pessoas de grupos marginalizados (ou de indivíduos que lutem por suas pautas) em âmbitos como comissões, casas legislativas, tribunais e outros órgãos públicos. É claro que essa luta vem desde movimentos como o das sufragistas e o pelo direito dos votos dos negros, além de estar ligado fortemente com os ideais contemporâneos de democracia.

 

Algo importante a se considerar é que, por exemplo, nem todas as pessoas da mesma orientação sexual tem a mesma perspectiva sobre pautas importantes, como a adoção por casais LGBTQ. Essas diferenças são um dos motivos pelos quais a pesquisadora Iris Marion Young afirma que é importante pensar a representatividade para além de se ter uma pessoa daquele grupo ocupando uma cadeira governamental. Também vale ressaltar que um indivíduo não consegue representar completamente um grupo, uma vez que ele é composto por pessoas com origens e interesses diferentes.

 

Já no âmbito cultural, a representatividade está intimamente ligada ao processo de construção das identidades, de acordo com a perspectiva dos estudos culturais. Explicando de maneira simplificada, a forma como nos vemos está conectada a forma como absorvemos o mundo a nossa volta, por isso é importante vermos diferentes grupos sociais representados de maneira diversificada. Um exemplo é a história da atriz americana Whoopi Goldberg que, ao ver a atriz Nichelle Nichols no papel da Tenente Uhura, percebeu que atrizes negras poderiam interpretar outros papéis que não o de empregada doméstica.

Fonte:

YOUNG, Iris Marion. Representação política, identidade e minorias. Lua Nova [online]. 2006, n.67, pp.139-190. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-64452006000200006&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em 1º de dez. de 2018.

Representatividade

Orientação sexual foi um conceito que começou a se consolidar no século XX, em especial por trabalhos de pesquisadores, como sexólogos e cientistas sociais. A escala de Alfred Kinsey, que expressa a prática sexual de uma pessoa de 0 (exclusivamente heterossexual) a 6 (exclusivamente homossexual), foi muito usada para descrever a sexualidade de indivíduos desde a sua criação, no final dos anos 40. Para a época ela já foi revolucionária por reconhecer, de certa forma, a bissexualidade.

 

No entanto, muitas outras formas para se pensar esse campo surgiram desde então, inclusive para abarcar a visão contemporânea de que o gênero não se limita ao binário de homem e mulher. Outra questão reconhecida nos últimos anos é a do espectro da asexualidade, que vai desde pessoas que não sentem qualquer atração sexual até àquelas cuja sexualidade está ligada situações específicas ou relações afetivas.

 

No final dos anos 70 já surgia uma forma de descrição que seria capaz de pensar melhor essas questões. O psiquiatra Fritz Klein, cujos estudos e atuação foram essenciais para aprofundar pesquisas sobre a bissexualidade, elaborou um pequeno questionário para definir a orientação sexual de um indivíduo. As respostas também estão em uma escala de 1 (gênero oposto) a 7 (mesmo gênero) e avaliam não só o comportamento sexual, mas também as fantasias da pessoa, a sua afetividade, sociabilidade e outros aspectos. Há três respostas em cada questão para realizar uma avaliação temporal: o histórico passado, os últimos 12 meses e a perspectiva ideal para o futuro.

 

A partir dessa perspectiva de Klein, é possível trabalhar com uma separação entre, por exemplo, prática sexual, afetividade (e/ou atração romântica) e identidade sexual. Isso é importante, pois, por exemplo, muitos asexuais sentem atração romântica (vontade de se relacionar amorosamente com outras pessoas), mas não há atração sexual. Essa visão também possibilita entender melhor as questões relativas aos homens que fazem sexo com homens que se identificam como heterossexuais, apesar de praticar sexo com outros homens.

 

Vale ressaltar que há uma diferença entre a identidade e a orientação sexual. Identificar-se com um determinado grupo, principalmente no caso das identidades LGBTQ, é uma postura política. Ao sair do armário, você se relaciona com toda uma carga historicamente construída de expectativas sobre aqueles grupos e, em muitos casos, está relacionado à demarcação de uma resistência aos padrões e às imposições da sociedade.

Por novos conceitos acerca da sexualidade

Com o reconhecimento das identidades de gênero não-binárias pode ficar um pouco imprecisa a categorização de sexualidade a partir de alcunhas como hétero, homo e bi. Especialmente por serem categorias que reforçam o binarismo entre homem e mulher, uma vez que só haveria um igual ou um diferente.

 

No âmbito do movimento queer, algumas pessoas já preferem usar termos como androfílico/androssexual, ginefílico/ginossexual e ambifílico/pansexual. Os prefixos andro- (homem) e gine- (mulher) referem-se aqui a características/formas de expressão de gênero associadas ao feminino ou o masculino. Sendo assim, essas categorias seriam mais abrangentes com relação ao espectro de identidades de gênero. Esses termos surgem a partir de estudos sobre a sexualidade de pessoas trans e continuam sendo usados em algumas pesquisas até hoje.

 

Homoafetividade e homossexualidade: sinônimos?

Como discutido, a atração sexual e a atração afetiva nem sempre andam juntas. O termo homoafetivo se tornou cada vez mais comum no Brasil contemporâneo, especialmente porque, no meio jurídico, o padrão usado para se referir a uniões civis estáveis entre gays e lésbicas é “união homoafetiva”. Alguns casais inclusive adotaram essa nomenclatura para se referir aos seus relacionamentos.

 

O pesquisador Ricardo Andrade problematiza essa categoria ao apontar que termos como homossexual, gay e lésbica possuem certo estigma. Por isso, “homoafetivo” poderia ser usado como um eufemismo que afasta/desvincula a sexualidade dessas relações para aproximá-las de ideais heteronormativos de família e, portanto, tornar o processo de conquista de direitos mais palatável aos setores mais conservadores da sociedade. Um ponto de questionamento inclusive é de que não se fala em heteroafetividade, uma vez que o afeto (e as noções de família) são “naturalmente” associadas às relações heterossexuais, em contraposição a uma associação preconceituosa da homossexualidade à promiscuidade.

Fontes:

AUER, M. K, et. al. Transgender Transitioning and Change of Self-Reported Sexual Orientation. PLoS ONE. São Francisco (EUA), v. 9, n. 10, p. 1-11. Disponível em: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0110016. Acesso em 1º de dez de 2018.

 

CARDOSO, Fernando Luiz. O conceito de orientação sexual na encruzilhada entre sexo, gênero e motricidade. Interam. j. psychol.,  Porto Alegre , v. 42, n. 1, p. 69-79, abr. 2008 . Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-96902008000100008&lng=pt&nrm=iso. Acesso em 1º de dez de 2018.

 

COITINHO FILHO, R.A.. O lugar do afeto na produção do 'homoafetivo': sobre aproximações ao familismo e à aceitabilidade moral. Revista Ártemis, v. XIX, p. 168, 2015. Disponível em: http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/artemis/article/view/26212. Acesso em 1º de dez de 2018.

Orientação sexual e afetividade

Gênero é um conceito que foi construído ao longo do século XX e a definição pode variar bastante de acordo com a perspectiva teórica envolvida. Nessa definição, vamos partir da conceituação da pesquisadora Queer Judith Butler. Uma das principais críticas da autora é a forma como o sexo biológico estava ligado ao gênero de forma naturalizada até então. Para a filósofa, a própria forma como se entende o sexo biológico está relacionada a naturalizar as relações de gênero. Ou seja, a noção de sexo biológico contribui para que a sociedade veja os padrões de gênero (que inclui roupas, comportamentos e características físicas como pelos ou comprimento do cabelo, por exemplo) como algo natural, que sempre existiu.

 

As práticas que constituem o gênero vêm de muito antes de nós. Há um processo de construção histórico das performatividades: as formas de ser homem ou mulher, que podem ser aceitas ou rechaçadas pela sociedade, dependendo se elas são entendidas como normais ou não. A relação heteronormativa, no qual há um homem e uma mulher com lugares bem demarcados (por exemplo, o homem cis trabalhador e a mulher cis mãe, doméstica) foi considerada o normal pela sociedade foi por muito tempo.

 

Já uma pessoa que foi designada no nascimento como homem, porém executa comportamentos considerados femininos, usa vestido e se relaciona afetiva e sexualmente com outros homens é subjugado. Isso porque a sua performance de gênero, ou seja, a forma como ele se apropria desse conjunto de comportamentos, entra em conflito com o entendimento padrão da sociedade.

 

A reprodução dessas normas de gênero pode ser explorada de diversas formas, mas o ponto central é de que não há uma maneira de parar de reproduzi-las de uma forma ou de outra. Isso porque praticamente todos os comportamentos são “generificados”, ou seja, associados a um gênero ou a outro.

 

A teórica Sarah Salih, partindo do conceito de performatividade, propõe que toda performance de gênero é uma paródia de comportamentos anteriores ao sujeito. Isso porque estamos constantemente imitando práticas que aprendemos, seja na escola, na família ou por meio de produtos culturais (livros, filmes, séries, etc.).

 

Na contemporaneidade, o movimento LGBTQ avança no sentido de romper com essa relação até então inquestionável que atrela o sexo designado no nascimento ao gênero. O indivíduo, na medida em que cresce, pode se reconhecer em uma identidade de gênero diferente daquela designada, como é o caso das pessoas trans. A partir disso, a sua performance, ou a sua expressão de gênero, muda de maneira que corresponda melhor a forma como ele vê a si mesmo. Isso parte de um entendimento do gênero como um espectro: homem e mulher não são opostos exclusivos, mas sim um contínuo dentro do qual o indivíduo pode se posicionar em algum ponto do meio, rejeitá-lo ou até mesmo transitar entre o masculino e o feminino.

Fontes:

BUTLER, Judith. Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity. Nova Iorque: Routledge, 1999.

 

SALIH, Sara. Judith Butler e a Teoria Queer. Tradução e notas: Guacira Lopes Louro. - 1. ed.; 1. reimp. - Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.

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